Vamos ter uma conversa que, provavelmente, seu ginecologista nunca teve com você. Vamos falar sobre a menopausa. Mas não sobre as ondas de calor, a insônia ou a irritabilidade. Isso é a fumaça. Hoje, vamos falar sobre o incêndio que está acontecendo por baixo de tudo isso.
A maioria das pessoas trata a menopausa como um conjunto de sintomas incômodos a serem “gerenciados”. Uma fase chata da vida que precisa ser suportada. E esse, minha amiga, é o maior e mais perigoso erro que você pode cometer. A menopausa não é um inconveniente. É o maior evento inflamatório e de mudança metabólica que o corpo feminino enfrenta desde a puberdade. É um alarme ensurdecedor de que as regras do jogo mudaram completamente. E ignorar esse alarme não te torna mais forte. Te torna mais vulnerável.
O grande mal-entendido: por que ‘sintomas da menopausa’ é o termo errado
Vamos a uma análise… Quando falamos em “sintomas”, estamos admitindo que a menopausa é uma doença. E ela não é. O que chamamos de “sintomas da menopausa” — os fogachos, a secura vaginal, a queda de libido, a névoa mental — não são a doença. São os sinais de alerta de uma única condição subjacente: a falência ovariana e a consequente privação de estrogênio.
Pense nisso por um segundo. A gente não “trata” os sintomas. A gente trata a causa. E a causa aqui é a ausência de um dos hormônios mais poderosos e protetores do corpo humano.
O estrogênio como o maestro do seu corpo
Imagine uma orquestra. O estrogênio não é só o violino, que toca uma melodia bonita sobre fertilidade. Ele é o maestro. Ele rege o seu cérebro, seus ossos, seu coração, sua pele, seus vasos sanguíneos, seu metabolismo de gordura e açúcar.
Quando o maestro vai embora, a orquestra não para de tocar. Ela entra em um caos cacofônico. E é esse caos que vamos dissecar agora, as verdadeiras “bombas-relógio” que os fogachos estão tentando te avisar. Esse é o segredo dos sintomas da menopausa.
A bomba-relógio 1: seus ossos e o risco silencioso da osteoporose
Este é o clássico. Todo mundo já ouviu falar. Mas você realmente entende a magnitude disso? O estrogênio é o principal guardião da sua densidade óssea. Ele controla as células que constroem (osteoblastos) e as que destroem (osteoclastos) osso.
Sem o maestro, as células de destruição ficam descontroladas. Nos primeiros 5 anos após a menopausa, uma mulher pode perder até 20% de sua massa óssea. Isso é um dado da Organização Mundial da Saúde. Não é uma opinião. É uma corrida silenciosa para a fragilidade, onde uma simples queda pode significar uma fratura de quadril e uma perda devastadora de independência. O fogacho é o alarme. A osteoporose é a bomba.
A bomba-relógio 2: o coração e o ‘infarto invisível’ pós-menopausa
Aqui a coisa fica realmente séria. Antes dos 50 anos, o risco de uma mulher ter um infarto é muito menor que o de um homem. Depois dos 50, essa “proteção mágica” desaparece. E adivinha quem era o guarda-costas? Ele mesmo, o estrogênio.
Ele mantém seus vasos sanguíneos flexíveis, controla os níveis de colesterol (aumentando o HDL, o “bom”) e tem um efeito anti-inflamatório direto no endotélio vascular. Sem ele, o risco de doença cardiovascular não apenas iguala, mas ultrapassa o dos homens. A doença cardíaca é a principal causa de morte em mulheres pós-menopausa. Um estudo massivo da American Heart Association mostrou que essa transição é um fator de risco independente.
Você está preocupada com as rugas, mas a verdadeira ameaça está se acumulando silenciosamente nas suas artérias.
A bomba-relógio 3: o cérebro e a névoa que não é ‘coisa da sua cabeça’
“Estou esquecida”, “Não consigo me concentrar”, “Parece que meu cérebro está em câmera lenta”. Te soa familiar? Isso não é “cansaço da idade”. Isso é neuroquímica.
O seu cérebro é lotado de receptores de estrogênio. Ele é um neuroesteroide que ajuda a regular neurotransmissores como a serotonina (humor) e a acetilcolina (memória), além de promover o uso de glicose pelo cérebro. Quando o estrogênio some, seu cérebro literalmente passa por uma crise de energia. A “névoa mental” é um sintoma neurológico real, documentado em estudos de neuroimagem. E, mais assustador, essa mudança está sendo investigada como um possível gatilho para um risco aumentado de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, em mulheres.
Então, como se desarma essa bomba? (a parte que importa)
Depois desse diagnóstico um tanto brutal, a boa notícia: você não é uma vítima passiva. Você pode assumir o controle. Desarmar a bomba exige uma estratégia proativa, não reativa.
A terapia de reposição hormonal não é o monstro que pintaram
Vamos ser claros. O estudo WHI de 2002 aterrorizou uma geração de mulheres e médicos, associando a terapia hormonal (TH) ao câncer de mama e a eventos cardiovasculares. O que não te contaram é que esse estudo foi feito com um tipo específico de hormônio (não bioidêntico), em uma população de mulheres mais velhas (idade média de 63 anos), muitas já com doenças preexistentes.
Hoje, os dados são outros. Sociedades como a The North American Menopause Society (NAMS) e a International Menopause Society (IMS) são claras: para mulheres saudáveis que iniciam a TH na janela de oportunidade (até 10 anos após a última menstruação ou antes dos 60 anos), os benefícios de proteção óssea, cardiovascular e neurológica superam, e muito, os riscos. Não é para todas, a decisão precisa ser individualizada com seu médico. Mas negar a si mesma a informação por causa de um medo ultrapassado é um desserviço à sua saúde de longo prazo.
A sua ‘equipe de elite’: sono, músculo e comida de verdade
Independentemente da TH, certas coisas não são negociáveis.
- Musculação: Não é estética, é longevidade. O músculo é um órgão endócrino. Ele melhora a sensibilidade à insulina (combatendo a gordura abdominal da menopausa) e estimula a formação óssea.
- Proteína: Sua necessidade de proteína aumenta na menopausa para combater a sarcopenia (perda de massa muscular). Mire em pelo menos 1.2g de proteína por quilo de peso.
- Sono: A higiene do sono se torna sua principal aliada contra a desregulação do cortisol e a inflamação.
A menopausa não é o fim da sua vitalidade. Pelo contrário. É o momento em que a natureza te dá um ultimato: ou você assume o comando da sua saúde de forma consciente e estratégica, ou as consequências metabólicas assumirão o controle por você.
A escolha, como sempre, é sua.
Referências:
- World Health Organization (WHO). (2021). Menopause.
- The North American Menopause Society (NAMS). (2022). The 2022 Hormone Therapy Position Statement of The North American Menopause Society. Menopause, 29(7), 767-794.
- El Khoudary, S. R., et al. (2020). Menopause Transition and Cardiovascular Disease Risk: Implications for Timing of Early Prevention: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation, 142(25).
- Rettberg, J. R., Yao, J., & Brinton, R. D. (2014). Estrogen: a master regulator of bioenergetic systems in the brain and body. Frontiers in neuroendocrinology, 35(1), 8–30.




