Hoje vou falar de uma sensação que é assustadora e profundamente invalidante. Você entra em um cômodo e esquece o que foi buscar. Perde o fio da meada no meio de uma frase importante no trabalho. Não consegue encontrar uma palavra que está na ponta da língua. Bem-vinda à névoa mental da menopausa. E a primeira coisa que você precisa saber é: isso é real, é fisiológico e não é um sinal precoce de demência, apesar de o medo ser compreensível.
A crise de energia do seu cérebro: o que a ciência descobriu com PET scans
Seu cérebro é um órgão faminto por energia e extremamente sensível a hormônios. Ele possui uma vasta rede de receptores de estrogênio. O estrogênio atua como um ‘maestro’ da bioenergética cerebral, ajudando as células a captar e usar glicose, sua principal fonte de combustível. A neurocientista Dra. Lisa Mosconi, da Weill Cornell Medicine, usou exames de PET scan para demonstrar que, durante a perimenopausa e a menopausa, o cérebro feminino pode apresentar uma redução de até 25% no metabolismo da glicose. Isso é uma crise energética real e mensurável. Essa dificuldade em gerar energia se manifesta como lentidão de pensamento, dificuldade de concentração e lapsos de memória. É a causa por trás daquela sensação de que seu cérebro está funcionando com ‘freio de mão puxado’, um dos sintomas mais alarmantes da menopausa.
3 estratégias para limpar a névoa e ‘religar’ seu cérebro (baseadas em neurociência)
A boa notícia é que seu cérebro é notavelmente plástico e adaptável. Você pode ajudá-lo a criar novas rotas de energia e a se proteger.
1. Alimente seu cérebro com uma dieta ‘neuroprotetora’
Se a glicose está se tornando uma fonte de energia menos confiável, seu cérebro pode aprender a usar uma fonte alternativa: os corpos cetônicos, derivados da gordura. Uma dieta com menos carboidratos refinados e mais gorduras saudáveis (estilo Mediterrâneo) pode ajudar. Priorize:
- Ômega-3 (DHA): Encontrado em peixes gordos como salmão e sardinha, é um componente estrutural do cérebro.
- Colina: Vital para a produção de acetilcolina, o neurotransmissor da memória. A gema do ovo é a melhor fonte.
- Flavonoides: Compostos de plantas encontrados em frutas vermelhas, chá verde e cacau, que possuem efeito anti-inflamatório e protetor.
2. Movimente-se para criar ‘adubo cerebral’ (BDNF)
O exercício físico, especialmente o que aumenta sua frequência cardíaca, estimula a produção de uma molécula milagrosa chamada BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro). Pense no BDNF como um ‘adubo’ que ajuda novos neurônios a crescer e novas conexões a se formarem. É a forma mais poderosa de combater o envelhecimento cerebral e melhorar a plasticidade sináptica. A melhora do sono, que discutimos em nosso guia sobre insônia, também impacta diretamente a produção de BDNF, mostrando como tudo está interligado.
3. Considere a ‘solução raiz’: a terapia hormonal
Se a crise de energia é causada pela falta do maestro (estrogênio), a solução mais direta é trazer o maestro de volta. A terapia de reposição hormonal, quando iniciada na janela de oportunidade, pode restaurar a função bioenergética normal do cérebro, aliviando a névoa mental e, segundo a pesquisa da Dra. Mosconi, oferecendo neuroproteção e potencialmente reduzindo o risco de desenvolvimento de Alzheimer em mulheres.
Referências
- Mosconi, L., et al. (2018). Perimenopause and emergence of an Alzheimer’s disease-like bioenergetic phenotype in brain. PLoS ONE, 13(10), e0205247. https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0205247
- Rettberg, J. R., Yao, J., & Brinton, R. D. (2014). Estrogen: a master regulator of bioenergetic systems in the brain and body. Frontiers in neuroendocrinology, 35(1), 8–30. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3943477/




